terça-feira, 24 de novembro de 2009

Porque não...

Contemplando a pouca ética que ainda compunha o seu ser disforme, o Sujeito explora a sua própria sexualidade, numa desesperada tentativa de alcançar o prazer súbdito que lhe foge, não pelo ardor carnal mas pelo outro, um que não pode tocar, que lhe foge.

Tudo à sua volta perde o tom, o sabor amargo da tonalidade cinzenta, outrora colorida, cresce-lhe na boca, traças de olhos grandes saem-lhe da boca, levando o pouco de ser que lhe restava, transportando esse pedaço de esterco inútil para uma qualquer vala comum, abandonada.

Batem à porta, raspam a porta, rezam a porta, beliscam a porta, a porta é uma entidade. Cresce-lhe o sexo. Continuam a pedir por ele, a porta não se cala, chama, chama. Num canto inferiorizado o Sujeito pede por decência, pede que liguem a luz, que o deixem ver-se ao espelho uma última vez. Um qualquer ser grotesco que se lhe apresente do outro lado tanto faz. Ele quer sentir, não...ver que ainda lá está, que a carne efémera e podre ainda se mantém, que o Ser do Sujeito não se perde nos pedaços de vidro espalhados no quarto. Uma arma...uma arma.

Deixem a porta em paz! Grita o Sujeito!

Não quer saber o que jaz para além dela, se o seu sonho já morreu, a realidade permanece, não a perderá por restos de esterco fantasioso. Deixem-lhe o sexo, ele que fique por aí.

Pega na arma! Calem a porta! Acabem! Só me vejo, não gosto do reflexo, é demasiado real, e para além disso...

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